O deputado Cesar Valduga (PCdoB) participou, na manhã desta quarta-feira (20) na Assembleia Legislativa, de uma audiência pública para debater a situação da saúde e dos repasses para hospitais e municípios. Representantes do Poder Executivo e do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) não chegaram a um acordo sobre a real existência de uma dívida com os municípios derivada de atrasos nos repasses para a manutenção de serviços de saúde.
O presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Santa Catarina (Cosems-SC), Sidnei Bellé, afirmou que em com a sanção, em 2013, da Lei 16.159 (posteriormente regulamentada pelo Decreto 2161/2014), o governo se comprometeu a promover um incentivo financeiro às prefeituras para a realização de consultas e exames de média e alta complexidade, no valor per capita correspondente a R$ 0,30 mês por habitante. Os pagamentos, entretanto, teriam cessado em 2015, acumulando dívida com as secretarias municipais de saúde de aproximadamente R$ 61 milhões.
Um outro débito, de R$ 19 milhões, segundo disse, tem relação ao aumento de 20% sobre o valor do cofinanciamento estadual da atenção básica, estabelecido por meio da Deliberação 141, de 2015, mas que também não estaria sendo reconhecido pelo governo.
Diante da situação, ele explicou que os municípios vêm sendo obrigados a destinar mais verbas próprias para a manutenção dos serviços, ou ainda formar consórcios com outras administrações vizinhas. “Sabemos que o período é de crise e queremos continuar dialogando com o governo, para num futuro próximo sermos ressarcidos por isso”, declarou.
Presente à audiência, o gestor da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Vicente Caropreso, afirmou que a pasta tem procurado recuperar algumas parcelas dos atrasos referentes ao cofinanciamento, mas que ainda não vê perspectivas para um ajuste total do montante devido.
Com relação à interrupção do incentivo financeiro decorrente da Lei 16.159, Caropreso afirmou que o fato aconteceu por deliberação do grupo gestor do governo, que entendeu que repasse só era válido para o ano de 2014, ano que a legislação recebeu uma regulamentação. Para que os pagamentos seguissem válidos, a lei deveria receber novas regulamentações a cada ano. “Não estávamos legalmente autorizados a pagar esse cofinanciamento.”
O secretário, entretanto, não descartou a possibilidade de um entendimento entre as partes. “Temos que entrar num entendimento com a Cosems e secretarias para saber como e em que momento vamos conseguir quitar esses débitos”, disse.
Para o deputado Vaduga, os cortes do Governo Federal e o congelamento dos gastos deverão agravar a situação. “Precisamos intensificar a resistência ao desmonte de políticas de saúde impetradas pelo Governo Temer. O caminho ao qual conduzem a saúde pública no Brasil é o total desmonte, um crime contra a população”, afirmou.
A visão do MPSC
O promotor de Justiça, Thiago Carriço, por sua vez, refutou a afirmação de Caropreso sobre a necessidade de regulamentação anual da Lei 16.159. “Essa lei não depende de regulamentação. Esse decreto, com todo o respeito, foi um pretexto criado sob o ponto jurídico e técnico, com a verdadeira finalidade de que os recursos só fossem pagos naquele ano. Essa é uma análise jurídica da qual tenho absoluta tranquilidade e liberdade de fazer.”
Ele prosseguiu afirmando que já existem inquéritos instaurados pelo MPSC para apurar o caso, mas que o órgão busca uma solução consensuada entre as partes antes de enviar a demanda para a esfera judicial. “As providências que serão tomadas pelo Ministério Público serão no reconhecimento da validade, vigência e eficácia dessa lei de modo que esses recursos, que passam dos R$ 60 milhões, sejam pagos. Mas estamos buscando que esse assunto seja equacionado pelo governo, pois não queremos que seja buscada uma demanda judicial, que pode ser perigosa em alguns aspectos.”
- Com informações da Agência Alesc