A Assembleia Legislativa de Santa Catarina promoveu, na noite desta terça-feira (21), uma sessão especial em homenagem ‘in memoriam’ ao ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Luiz Carlos Cancellier de Olivo. A solenidade reuniu lideranças políticas, acadêmicos e representantes de diversos poderes e órgãos públicos do estado.
Natural de Tubarão, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ou Cao, como era chamado por amigos e familiares, foi jornalista e professor universitário, tendo falecido no dia 2 de outubro de 2017, aos 59 anos. Ele estava afastado temporariamente do cargo de reitor da Ufsc, no qual havia sido empossado em maio de 2016 para mandato até 2020.
A sessão foi aberta com a exibição de um video contendo trechos de reportagens sobre a prisão de Cancellier, depoimentos de ex-alunos, colegas de trabalho, profissionais do Direito, jornalistas e lideranças públicas, destacando a figura humana e profissional do ex-reitor, bem como críticas à forma como foi movido o processo contra ele.
Em manifestação na tribuna, o desembargador do Tribunal de Justiça, Lédio da Rosa, afirmou que a magistratura brasileira passa por um mau momento e que a sociedade não deve permitir a instalação de um sistema de cerceamento dos direitos civis.
Ele cobrou a responsabilização civil, criminal e administrativa dos responsáveis pelo processo. “O Cao foi vítima de agressão e brutalidade de instituições dentro do estado de Santa Catarina, que não recebem ordem da Polícia Federal e da Justiça Federal. Alguém do Estado autorizou o ingresso de Cao na penitenciária contra a lei, alguém do Estado permitiu que ele fosse algemado, acorrentado nas pernas, fosse vestido como condenado e introduzido no setor de segurança máxima como criminoso perigoso, quando lei proíbe que um preso provisório seja colocado com os presos comuns.”
O desembargador também instou a Assembleia Legislativa a cobrar um posicionamento do governo sobre o caso. “Que esta Casa oficie ao governo perguntando, se for o caso, e até mesmo exigindo, se não houver uma resposta, porque até agora a população não sabe de nada e porque até agora nada foi feito.”
Presente a solenidade, Júlio Cancellier, irmão do ex-reitor, agradeceu em nome da sua família todo o apoio recebido, afirmando ainda que no decorrer de poucas semanas todas as denúncias que motivaram o processo se mostraram vazias. Em razão disto, ele pediu apoio dos presentes para a penalização dos que cometeram excessos nos procedimentos que envolveram a prisão do irmão. “Nós, os familiares, estamos muito gratos a todos, mas queremos fundamentalmente que se apurem as responsabilidades dos que levaram Cancellier a tomar aquela atitude, e nisto contamos com o apoio de todos.”
Em outro forte pronunciamento, o reitor em exercício da UFSC, afirmou que passados menos de dois meses da morte de Cancellier, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação, emitiu um relatório em que afirma que todo o caso esteve baseado apenas em indícios de irregularidades administrativas. “Por causa disso nos perdemos um reitor. Por causa disso, nossa universidade sofreu prejuízos em nível nacional e internacional. Um esforço de cinco décadas para transformar essa universidade na quarta maior do país é dilacerado por franco-juízes, que se reúnem na madrugada, julgam e dão a sentença.”
Ele finalizou sua fala afirmando que a instituição está motivada para superar o momento e que se sente grata pela homenagem prestada pela Assembleia Legislativa a Cancellier. “A universidade vai superar o abuso, o arbítrio, a humilhação a que foi submetida consubstanciada na figura do reitor, mas sofrida por toda a comunidade. Saberemos dar a resposta, honrando esse estado. Em nome da UFSC, agradeço a homenagem prestada ao nosso reitor.”
Também participaram da sessão os deputados Cesar Valduga (PCdoB), Rodrigo minotto (PDT), proponente da domenagem, Ana Paula Lima (PT), Fernando Coruja (PMDB), Neodi Saretta (PT), Dirceu Dresch (PT); o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), Cesar Augusto Luiz de Abreu; o procurador-geral do Estado, João dos Passos Martins Neto; os ex-ministros de Estado Ideli Salvatti e Manoel Dias; e o membro do Comitê de Especialistas em Administração Pública das Nações Unidas, Alexandre Navarro Garcia.
Livro e documentário
A solenidade contou ainda com o lançamento do livro/documentário “Em Nome da Inocência: Justiça”, que trata dos episódios ligados a prisão e morte de Luiz Cancelir. A obra foi organizada pelo ex-deputado Jailson Lima, em conjunto com o desembargador e professor Lédio Rosa de Andrade e Sérgio Grazano.
Com informações da Agência Alesc