Apesar de ter recebido a chamada de “As dificuldades do setor leiteiro, especialmente a importação do leite do Uruguai”, a audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Política Rural da Assembleia Legislativa, nesta quinta-feira (28), no Plenarinho, apontou que a importação não é o único problema enfrentado pelos produtores leiteiros. Conforme dados apresentados ao longo da reunião, o crescimento da produção e a queda no consumo estão entre os principais obstáculos do produtor de leite em Santa Catarina. Para o enfrentamento da crise, deputados e representantes do setor agropecuário catarinense apontaram o auxílio do governo federal e o melhoramento da imagem do produto como soluções imediatas para o atual momento.
O deputado Cesar Valduga (PCdoB) defendeu a participação do poder público para fortalecer o setor e torná-lo atraente e competitivo. “Compreendemos a necessidade de fomento, por parte do Governo, visando dar solidez ao setor”, explicou o parlamentar.
Entre as diversas dificuldades apontadas estão o alto valor pago pela embalagem do leite, que gira entre R$ 0,40 e R$ 0,47, o gasto com investimentos e maquinários cada vez mais caros, a queda no consumo e as importações do produto.
Aumento na participação nacional
Conforme dados levantados por Tabajara Marcondes, da Epagri/Cepa, e apresentados durante a audiência, Santa Catarina aparece como o 5º estado produtor de leite, chegando a cerca de 9% da produção nacional. Na contramão dos demais estados brasileiros, a produção catarinense seguiu crescendo em 2015 e 2016, o que, juntamente com o decréscimo da produção dos demais estados, fez aumentar a sua participação no âmbito nacional.
A produção de leite catarinense ainda teve crescimento de 2015 para 2016 no volume do produto recebido pelas indústrias inspecionadas, sendo o inverso do que houve na maioria dos demais estados. Com isso, Santa Catarina ampliou para 10,5% a sua participação na oferta de leite às indústrias brasileiras.
Crescimento da produção e queda no consumo
Com a redução na quantidade de leite recebida em 2015 e 2016 pelas indústrias brasileiras e a estabilidade nos primeiros meses de 2017, os preços dos produtos lácteos e os produtores estiveram em patamares considerados favoráveis na maior parte de 2016 e no primeiro semestre de 2017.
Entretanto, nos últimos meses de 2017, a oferta de leite tem ficado acima do esperado quando comparada aos mesmos meses de 2016, o que acabou gerando uma mudança no quadro de preços aos atacados e produtores, que chegaram a patamares considerados baixos e inesperados para o período.
Ainda conforme dados levantados pela Epagri, as explicações para o atual quadro de preços estão voltadas para as importações do leite e a oferta do produto. Entretanto, no caso das importações, faltam dados de sustentação para tal afirmação, já que, em 2017, as mesmas foram decrescentes e com preços superiores aos de 2016.
De acordo com o secretário-adjunto de Agricultura e Pesca, Airton Spies, a demanda é uma variável indispensável para compreender os problemas do mercado lácteo, sendo importante destacar que o sistemático aumento da produção leiteira no Brasil, nos dois últimos anos, foi sustentado pelo crescimento do mercado interno. “Levando em conta a possibilidade de, em curto prazo, o quadro econômico melhorar, a ponto de impactar positivamente no emprego, no consumo e na renda, é evidente que qualquer mudança mais significativa no atual quadro vai depender especialmente da queda de oferta”, afirmou.
Auxílio do governo federal
Uma das soluções mais apontadas por parlamentares, produtores e representantes do setor leiteiro ao longo da audiência foi a compra do leite, por parte do governo federal, para a implementação do produto na merenda escolar. “Eu acredito que esse tenha sido o ponto central da audiência para o momento, já que com a compra desses estoques excedentes poderemos regular a oferta e a demanda, ajustando os nossos preços aos produtores”, frizou o deputado Altair.
O Plano Safra 2018 também foi apontado como solução para o enfrentamento da crise, onde o governo federal possa vir a disponibilizar mais recursos destinados à modernização da atividade leiteira. “A qualidade do produto precisa ser melhorada para que assim haja mais competitividade dentro do setor”, afirmou o deputado Maurício Eskudlark.
Além do auxílio financeiro, produtores catarinenses também lembraram, durante a audiência, da importância de melhorar a imagem do leite para que o consumo cresça ao lado da produção. “Hoje vemos propagandas de cerveja e refrigerantes que, mesmo caros, são consumidos. Por que? Porque existem propagandas. Por isso, acredito que precisamos melhorar a imagem do nosso leite aos olhos dos consumidores”, disse o produtor e vereador da cidade de Sul Brasil, Claudimar Ferrari.
Com informações da Agência Alesc